Por mais que tentasse, nessa noite não teria nada pra escrever. Não precisava de outro poema, precisava apenas desabafar. Mais uma vez as palavras eram suas únicas companheiras e ele buscava nelas aquilo que ninguém mais poderia dar. Tentava organizar seus pensamentos, pra de alguma forma chegar à alguma conclusão, mas se deparava com montanhas de dúvidas e incertezas e isso o deixava sem saber o que fazer.
Apenas uma coisa ainda o mantinha de pé, a vontade de continuar, de seguir em frente, de tentar fazer diferente, ao menos uma vez. Era hora de ser egoísta, e uma única vez pensar em si mesmo, no seu orgulho, e acima de tudo e de todos, na sua felicidade. Não queria mais ser julgado. Não queria mais ser julgado por ele, pelos seus amigos, por sua consciência, essa que sabia o que era certo, mas sempre fora vencida pelo seu inútil coração.
Queria ao menos uma vez poder olhar pra trás e ter a certeza de ter feito a coisa certa, sem o peso maldito do arrependimento lembrando-o que houveram outros caminhos, mas que ele, como sempre, escolhera o mais difícil.
Apenas uma coisa ainda o mantinha de pé, a vontade de apenas desabafar e prometer para si mesmo que embora não tivesse nada pra escrever, organizaria seus pensamentos a ponto de derrubar suas montanhas de dúvidas e incertezas. E apenas, ainda que apenas em um poema seria egoísta e pensaria em si mesmo, no seu orgulho, e acima de tudo e de todos, na sua felicidade. Cale-se seu inútil coração! Nessa noite ele é quem decide sobre o que irá escrever.
Airton Gabriel e Rodolpho Rod.